Medicação

Kretschmer conduziu um estudo bastante detalhado de paranoia sensitiva por um período de mais de 30 anos. Seu livro “Der sensitive Beziehunswahn” publicado em 1950 e traduzido como “Paranoia e Sensitividade” [1], descreveu um grande número de casos em profundidade de detalhes. Entretanto, antidepressivos e neurolépticos não existiam à época do livro. A introdução desses medicamentos ocorreu em 1952 para o tratamento de distúrbios ilusórios e levou a uma revisão de conceitos. Psiquiatras pesquisadores tentaram repetidamente determinar que medicamentos seriam capazes mais efetivamente de estabilizar a paranoia sensitiva.

Um consenso aparentemente foi gradualmente atingido em favor de uma combinação de um antidepressivo em doses convencionais com uma dose baixa ou média de neuroléptico, como ilustrado pelas citações abaixo:

A. PROSPERI and G. PUPESCHI escreveram [2]: “Quimioterapia é geralmente mesclada a partir de uma combinação de antidepressivo e neurolépticos (Guyautat et al., 1996; Sutter et al., 196). Antidepressivos, preferencialmente tricíclicos ou inibidores da captação da serotonina são prescritos de acordo com doses e durações conventionais.

Neurolépticos incisivos, os quais não são sistematicamente propostos por todos os autores, devem ser usados a doses médias e baixas. Em doses muito altas, por inibir os sintomas de delírio, podem piorar a depressão. Neurolépticos atípicos ou anti-psicóticos podem ser indicados nesses casos, mas sempre em doses baixas.”

Por sua vez, J.P. OLIE, T. GALLARDA e E. DUAUX indicaram [3]: “alguns indivíduos com paranoia sensitiva requrem quimioterapia de longo prazo (Anafranil, 50 mg/day e Largactil, 100 mg/day)”. Note que a dose de antidepressivo Anafranil é clássica, enquanto que a baixa dose do neuroléptico Largactil é recomendada.

A. FOURNIER [4] escreveu: “Após 2 semanas de tratamento da paciente com paranoia sensitiva de Kretschmer, essencialmente usando neurolépticos (Haloperidol e Nozinan), as características clínicas permaneceram inalteradas e os delírios persisitiram. Nós adicionamos tratamento com Floxyfral a uma dose de 150 mg por dia (três tabletes de 50 mg) e, após um período de 10 a 15 dias, uma melhoria notável foi observada com insights lúcidos e críticos sobre os delírios. Esse estado permitiu à paciente ser liberada do hospital um mês após a admissão.

Esses autores enfatizaram a necessidade de moderar as doses de neurolépticos para evitar a acentuação da depressão.

Isso foi confirmado por M. ESCANDE, L. GAYRAL e E. GOLDBERGER [4]: “uma reação frequente é a depressão que acompanha o estado de delírio e que deteriora durante a evolução do tratamento, quando a atividade“

Tratamento deve ser prescrito de forma muito cuidadosa

O tratamento deve ser prescrito de forma muito cuidadosa e exclusivamente por um psiquiatra.

Note que antidepressivos não tem nenhum efeito convincente na paranoia sensitiva durante os 10 primeiros (ou 2 semanas) dias de tratamento, como previamente indicado por FOURNIER. Antidepressivos podem, portanto, apenas serem considerados como ineficazes após pelo menos 3 semanas de tratamento. Nem todos os pacientes com paranoia sensitiva responde à medicação exatamente da mesma forma. Alguns pacientes respondem muito bem com.

Dificuldades do diagnóstico diferencial com esquizofrenia

Como vimos, delírios dissociativos agudos da paranoia sensitiva são muito semelhantes àqueles observados na esquizofrênia.

Sobre esse assunto, Kretschmer escreveu [2]: “Dificuldades sérias de diagnósitco são observados em casos nos quais mecanismos de “reação esquizofrênica” são vistos no ponto culminante dos distúrbios sensitivos, antes de serem solucionados sem qualquer pista.”

A experiência mostra que mesmo nesses casos a combinação de antidepressivos de referência com uma dose baixa de neurolépticos dá muito bons resultados. Naturalmente, o primeiro reflexo é geralmente prescrever um neuroléptico de referência para tratar a esquizofrenia, o que é muito mais comum do que os.

1.Paranoïa et sensibilité, traduit par S. Horrinson, 1963 ,PUF.
2.Approches psychopathologique, clinique et thérapeutique du délire de relation des sensitifs : à propos d’un cas. Revue française de psychiatrie et de psychologie médicale. 2002, volume 6, n°52, pages 55-60
3.Le livre de l’interne, Psychiatrie , 2ème édition, Médecines Sciences  Publications, Lavoisier, page 246
4.Dépressions et antidépresseurs au cours des traitements par les neuroleptiques à effets prolongés. Annales médico-psychologiques, 1974,132,2,5 pages 669–694
5.L’hypocondrie émergente “méta-thérapeutique” ; In : Comptes-rendus du Congrès de Psychiatie et de Neurologie de Langue Française, Nimes, 1974,Paris, Masson,1974,300-308
6.Le délire de relation sensitif de Kretschmer. Aspects historiques et modernes. La semaine des hôpitaux, 1985, 61, 14,  pages 893-899
7.Kretschmer, ibid, page 4